This is New York, bitches
Posted in Originalsobre a nudez das ruas lembra a todos a respiração una da terra."
(Zbigniew Kosc)
Capítulo Um
P.O.V
O sol batia na janela do meu quarto, e eu provavelmente acharia isso muito bonito para se captar em uma foto, com os raios de luz passando pela vidraça e formando um espaço como que parado no tempo, onde somente as partículas de poeira estariam visíveis no ar. É claro que eu acharia tudo isso muito interessante e lindo, se eu não estivesse nesse exato momento, deitada na minha cama, que por acaso é em frente à maldita janela com as cortinas escancaradas, permitindo que aquela luz infeliz viesse de encontro direto com minha linda e inchada cara.
Meus murmúrios não pareceram surtir o efeito desejado (mover as cortinas para que se fechassem), e eu já me sentia, infelizmente, acordada. Sacudi—me com raiva na cama, empurrando meu travesseiro para o chão e ficando descoberta pela manta. OH CÉUS, QUE FRIO!
Cobri—me de novo, agora com os olhos bem abertos e atentos, caso o Mundo tentasse tirar a manta quentinha de cima de mim, novamente. Pensei bastante sobre o porquê de eu estar deitada na cama às nove horas da manhã, mas tudo parecia um borrão. Eu não deveria estar indo para a faculdade...?
Olhei para o calendário colado em minha porta, e no caminho, bati os olhos pelo meu quarto parcialmente vazio, com duas malas postas em frente à escrivaninha, e mais três deitadas no chão. Dia 28 de maio.
VINTE E OITO DE MAIO!
Levantei—me da cama com um puta susto e acabei levando tudo que estava à minha volta, comigo. Graças a Deus meu quarto já estava vazio, sem as coisas mais importantes.
Hoje é o dia esperado por mim durante sei lá quantos meses. O dia em que euzinha, , iria para New York, definitivamente!
Eu iria fucking morar em New York. Oh sim, agora eu podia sentir meus ossos congelados curtirem o nervosismo. Nem acredito que tive a coragem de dormir tanto, no dia mais incrível da minha vida.
Tomei o banho mais pulante da história, cantando todas as melhores músicas da minha biblioteca mental, e saí do banheiro correndo para me vestir com a roupa que já estava separada para aquele momento. Como meus pais não me acordaram? Eu daria uma boa bronca nesses dois.
Maquiei—me com base, pó e blush e decidi tentar arrastar minhas malas para o andar de baixo, sozinha. Qual é, eu sou forte pra caramba!
Olhei para as cinco malas presentes naquele lugar e quase enfartei com a primeira. Meu Jesus, como eu me viraria nos Estados Unidos com cinco malas do tamanho de um segurança de boate? E o que eu poderia fazer? Todo meu equipamento estava ali. Incluindo três sacolas com meus equipamentos de luz.
Desisti de bancar a fodona quando subi para buscar a terceira mala, e decidi gritar para ver se achava ajuda.
— PAIIIII LEVANTA A BUNDA DAÍ E ME AJUDA A DESCER ESSAS TRALHAS, ANTES QUE EU COMECE A PARIR ROUPAS!
Esperei pra ver se ouvia alguma coisa e em 3 minutos, meu pai entrava no quarto me olhando com aquele olhar pidão para que não fosse forçado a fazer aquela tarefa.
— Mas menina, olha isso aqui! Eu sou velho.
— Velho é o vovô. Você ontem mesmo empurrou seu carro sozinho naquela serra infeliz. Agora ajuda aqui.
Meu pai viu que perdeu a discussão e deu ombros. Na verdade todos aqui em casa são meio fortões. Acho que é de família e tal, mas isso acaba sendo um pouco chato quando você convive com umas amigas meio fraquinhas.
Falando em fraquinhas...
— Eu preciso acordar a ! – constatei em voz alta, largando meu pai reclamando por ter que fazer tudo sozinho.
estaria no décimo sono e com certeza, assim como eu, teria esquecido que hoje era O grande dia.
O telefone chamou umas cinco vezes, até que atendesse a linha. Ouvi sons de zíper, cadeira sendo arrastada, porta sendo aberta, até que sua voz exausta disse:
— Puta que pariu. Eu acordei ainda pouco. Como eu esqueci?
Ri internamente, já que tinha feito a mesma coisa e ainda estava um pouco animada demais.
— Seus pais não te acordaram? Que horror! Estou prontinha há séculos, e que eu saiba, nosso voo é daqui a – olhei no relógio do celular – 7 horas. O que nos dá tempo para comer, nos despedir de nossos pais e vazar por aeroporto. Você sabe, porque voo internacional é cheio da burocracia.
bufou, como se estivesse fazendo algo e tentando me entender ao mesmo tempo (coisa meio complicada pra uma pessoa avoada como ela).
— Acredita que a gente se formou na semana passada e já estamos indo tocar nossas vidas?
— Acredito – respondi sonhadora demais. – Acredito também que você ainda está enfiando roupas na mala. Eu vou pagar um puta prejuízo com os equipamentos. Quilo extra é caro demais!
gemeu de cansaço e respondeu:
— Deixa esses bagulhos no Brasil. Você pode comprar tudo lá.
Eu gargalhei.
— Trabalhei por dois anos naquela bosta de revista pra conseguir os melhores equipamentos e você espera que eu simplesmente tenha dinheiro pra comprar tudo de novo? Nananinanão. O peso extra ainda é pouco comparado a três tripés, uma puta câmera, preciso admitir... As minhas queridas lentes e mais as lâmpadas.
— Já falei que cansei de fotos? – Ela brincou do outro lado da linha.
A questão é que se formou em Biologia e não entende muito bem nada, de Humanas. Já eu, a querida monstra de sua vida, me formei em Publicidade, com foco em Fotografia.
Trabalhei por dois anos em uma das revistas mais conhecidas do Brasil (pelo menos posso me gabar disso), e por esse motivo, consegui um trampo em New York. Não, “trampo” é mais pra coisa ralé. Eu consegui mesmo um trabalhão, numa revista conhecida (nada como Vogue, okay), por lá.
Com isso, disse SIM de imediato para a empresa e tirei meu visto de trabalho, podendo morar livremente na linda America.
Bom, com não foi tão fácil assim. Pra falar a verdade, foi bem complicado. Não é muito fácil uma pessoa de Biologia ser aceita por lá. Ainda mais na aérea que essa menina se formou. Eu só sei que tem algo a ver com focas, ou coisa do tipo.
não conseguiu o visto para trabalho, mas sim para ser voluntária no Aquário de New York, que fica no Brooklyn. Vistos de voluntários também são complicados de conseguir, e isso nos deu uma bela dor de cabeça. Mas nada que a Srta não consiga resolver (na verdade tudo que eu fazia era choramingar na cama de até que ela conseguisse resolver tudo).
— Já falou sim, querida. E por isso vou desligar na sua cara. Te vejo no aeroporto.
Não dei tempo para que ela respondesse, e desliguei a chamada. Voltei para meu quarto e meu pai já tinha descido quase tudo. Só precisei carregar minhas bolsas (pesadas pra caraca), e minha mochila pessoal.
Quando cheguei no andar de baixo, vi que meus pais estavam reunidos na cozinha, conversando sobre alguma coisa a ver comigo, e assim que me viram, se calaram.
— Humm. Tão planejando me prender no porão?
— Não temos porão, querida. Mas estamos conversando sobre algumas coisinhas. – Minha mãe parecia prestes a chorar ali. Ela fungou, pegou os ovos da panela e os jogou em um prato. Peguei os pães e coloquei na mesa.
— Vocês estão pensando em me convencer a ficar. – murmurei me sentando a mesa.
— Nunca faríamos isso — minha mãe me deu uma olhada bem feia e começou a encher a mesa com geleias, suco, leite e café.
Parece que é preciso eu ir embora, para ter um café da manhã decente nessa casa.
Meu pai se sentou à minha frente e começou a montar seu café. Imitei sua ação.
— Estávamos falando sobre o que você vai fazer quando chegar lá.
Parei para refletir sobre o que eles queriam dizer, porque durante meses planejamos tudo sobre minha ida. Alugamos um apartamento no centro de Manhattan com dois quartos, uma sala bem grande e uma cozinha maior que a nossa daqui. O que eles queriam dizer com “o que você vai fazer quando chegar lá”?
Minha mãe se juntou a nós na mesa, e pareceu perceber minha luta para desvendar o significado daquela frase.
— O que seu pai quer dizer, é que você nunca morou sozinha, e vai ser complicado, como já falamos.
— Ah... Bom, eu tenho vinte e dois anos agora. Vou trabalhar em uma revista bem grande e tenho onde morar. Nossa, sem falar no salário, que mesmo sendo razoável, é umas três vezes mais alto que o daqui.
Meus pais assentiram em conjunto e mudaram de assunto, falando sobre como eu deveria me cuidar no frio e tomar muito cuidado para não parar no Bronx às duas horas da manhã.
Eu fiquei por horas ouvindo tudo. Horas mesmo, porque ficamos duas horas na mesa batendo papo e tentando nos despedir, já que eles não me levariam ao aeroporto.
Na hora da despedida final, até eu chorei. Não porque não queria ir, mas sim porque aquela era minha família, meu chão, minha casa, meu quarto, minha vida! E eu estava prestes a viver algo totalmente diferente agora. Não sabia o que esperar e queria muito que eles estivessem comigo naquela aventura.
Meu pai chamou um taxi doblô, que coubesse todos meus pertences, e logo estava dentro do carro, olhando para o céu, pela janela, e com meus óculos escuros na cara.
O taxista me deu umas cantadas que foram levemente ignoradas, enquanto eu colocava tudo que tinha, com ajuda dele, em dois carrinhos do aeroporto.
avisara que já estava me aguardando lá dentro, já que ela morava mais próxima ao aeroporto. Entrei com um sorriso na cara e super desastrada com dois carrinhos para controlar.
Atropelei umas três pessoas e uma criança, mas deu tudo certo.
— Meu Deus – exclamou assim que a vi — Você tá levando seus pais aí? – ela apontou para as malas/seguranças de boates e eu fiz cara feia.
— Silêncio ou vão descobrir. – Minha amiga gargalhou e não esperou para soltar todas as novidades. A gerente geral do Aquário estava pronta para recebê—la assim que nos organizássemos no apartamento, e queria mostrar blá blá blá blá blá...
— !
Olhei para ela e percebi que já estava chegando nossa vez de despachar as malas e fazer o check—in (e eu nem tinha percebido que havíamos entrado na fila). Fingi que ouvia tudo que ela voltava a falar e comecei a ter vislumbres do meu futuro muito próximo, já que sempre falou pelos cotovelos.
Eu e já havíamos ido a New York nas férias, para ficar por duas semanas fazendo nada além de comer e visitar lugares clichês. E aquele lugar era um sonho. O meu sonho que estava se tornando real.
Quando chegou nossa vez de despachar as malas, pude ver o susto da funcionária ao ver que as cinco malas eram minhas. tinha duas malas bem grande, e uma mochila também. Precisei explicar que eram meus equipamentos de trabalho, mas mesmo assim a mulher pareceu um pouco desconfiada. Imagina na hora de sair da alfândega...
Quando tudo terminou e pegamos nossas passagens, eu já sentia meu corpo tremer de animação. Olhei para minha amiga e ela estava prestes e dar pulinhos erguendo sua passagem direta para New York.
Fomos logo para a sala de embarque, mas precisamos passar por uma fila enorme e um detector bem chato, de metais. Como já havíamos viajado pra fora antes, todas as maquiagens estavam bem lacradas em saquinhos e não levávamos nenhum alicate ou tesourinha de unha. As mínimas coisas, compraríamos por lá.
O segurança do detector de metais, não escondeu o quanto estava impressionado com e eu. Okay, okay, não sou uma dançarina do Faustão nem nada, mas posso me orgulhar das minhas pernas e bunda, e até um pouco dos meus seios. Eles são proporcionais.
Também sei que costuma chamar muita atenção por ser ruiva de nascença e conter aquelas sardinhas (que eu sempre tento aperta), nas bochechas. Os cabelos de eram ondulados e longos, enquanto os meus cabelos negros, eram muito lisos e batiam até a altura do sutiã.
Minha amiga se divertiu com o guarda, porque ele parecia prestes e babar na nossa cara. Ela jogou umas piadas e até empinou a bunda na hora de pegar seus pertences da vasilha na esteira. Eu me contive, muito fortemente, para não cair na gargalhada. Passei pelo guarda e mandei uma piscadela. Ele olhou para seu amigo no outro detector, e os dois me olharam safados.
Urgh, que nojo!
— Segura esses pelos pubianos ruivos, por favor.
andava contente e rebolando pelo caminho. Não tínhamos muito que fazer, já que faltavam umas três horas e meia para nosso embarque.
— Eles olham porque querem.
Eu dei uma tapa na bunda dela e comecei a rir, porque ela sabia muito bem que provocava a maioria.
As horas passaram incrivelmente rápido, até porque ficamos um bom tempo em lojas de cosméticos (que eram bem podres) e numa drogaria, comprando remédios para dor de cabeça e derivados.
Depois de comermos no Starbucks, fomos nos sentar em frente ao portão de embarque. O lugar estava lotado de gente. Crianças correndo, pais brigando, casais de beijando, velhos lendo revistas e alguns grupos de amigos, tanto turistas como brasileiros.
— Está tão nervosa quanto eu? Vamos para ficar, tipo, sem data de retorno.
— Isso se eu conseguir algo por lá antes que o voluntariado termine.
costumava ser bem positiva, tipo muito mais que eu, mas ela realmente achava que não conseguiria passar mais de dois anos por lá, pela falta de mercado de trabalho. Eu ainda me pergunto o que faz uma pessoa cursar algo que não dá emprego, mas ela me dizia que amava o que fazia, então quem sou eu para julgar?
— Para de ser pessimista, criatura. Prostituição ta aí em todo o canto.
riu, mas eu senti que ela ainda estava um pouco ressentida com a situação. Caramba, faltava pelo menos uns dois anos e meio para isso se tornar um problema!
Vimos o movimento aumentar e logo uma fila enorme estava formada em frente ao portão. Eu odeio filas, então deitei a cabeça para trás, coloquei as mãos no colo, e esperei que todo mundo entrasse no avião (o que demorou uns dez minutos, e o pessoal ficou reclamando).
Quando só faltava três pessoas para a fila acabar, eu e fomos até lá, e aquilo parecia um botão nas nossas mentes, mostrando o que estava acontecendo em nossa volta.
Oh, meu Deus, nós estávamos indo mesmo para New York.
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